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Mostrando postagens de 2023

Os adolescentes e algumas psicoses do nosso tempo

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Teenagers - painting by Alejandro De Jesus | A adolescência é uma fase da vida importantíssima para determinar que adultos seremos. Trata-se de um longo caminho a ser percorrido, sinalizado por diversas mudanças psicossomáticas que, gradativamente, vão demarcando diferenças cruciais entre a criança e o adulto. É uma trilha geralmente difícil de se fazer, permeada por angústias, inquietações, dúvidas e sofrimentos. Assim, muitos jovens buscam ajuda na psicanálise para lidar com o mal estar. E o psicanalista, para bem cumprir sua função, deve estar atento não apenas às especificidades da clínica nessa faixa etária, mas também às características do mundo em que tais sujeitos estão inseridos. Um dos grandes problemas com que nos deparamos atualmente na clínica psicanalítica é aquilo que chamarei, talvez por falta de expressão mais apropriada no momento, de rótulo diagnóstico. Isto é notoriamente prejudicial quando se trata de adolescentes, pois, como indicado acima, eles estão passando po

A masturbação coletiva e os estudantes de Medicina

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Chamou a atenção da mídia recentemente, e causou no mínimo estranheza, o comportamento de jovens, futuros médicos, que durante jogos esportivos da faculdade realizaram um ato de masturbação coletiva. Este tipo de ocorrência não surpreende muito quem já frequentou um curso de Medicina e teve a oportunidade de presenciar que parte dos estudantes costuma agir de modo bizarro e impudente nas festas promovidas pelas famosas “atléticas”, em especial durante os badalados jogos conhecidos como “intermed”, que acontecem entre diferentes faculdades. No entanto, conhecedores ou não desse ambiente talvez estejam ecoando a pergunta: por que isso acontece? Pois bem, vamos pensar sobre e levantar algumas hipóteses aqui. Inicialmente, deve ficar claro que estamos diante de um comportamento de grupo, ou de massa, se quisermos usar o termo consagrado por Freud na obra “Psicologia das massas e análise do Eu”. A propósito, nesse texto ele afirma que um indivíduo no interior de uma massa experimenta, por i

Em tempos de antidepressivos e ansiolíticos, qual o lugar da Psicanálise?

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Foi no meio médico que a Psicanálise surgiu, ainda no final do século XIX, e desde então ela tem sido bastante questionada. Os críticos mais ferozes alegam que psicanálise não funciona e que a ela faltaria o embasamento das evidências científicas. No entanto, apesar dos muitos opositores, incontáveis psicanalistas continuam a se formar e inúmeras pessoas dessa prática a se beneficiar, levando adiante experiências analíticas e testemunhos que mantém a Psicanálise bem viva no mundo contemporâneo. A propósito, um mundo onde não é difícil perceber diferentes formas de mal estar psíquico, que resultam, entre outros problemas, no uso excessivo de psicofármacos. Eis um cenário interessante para pensarmos o lugar da clínica psicanalítica, especialmente o da clínica lacaniana, com seus desafios e perspectivas nos dias atuais. A psicanálise encontrou lugar para florescer nos furos deixados pela clínica médica, e justamente aí segue havendo muito espaço para avançar. Não raro tais furos configura

A psicanálise na canção "Garotos II - O Outro Lado"

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“Garotos II - O Outro Lado” é provavelmente a canção mais conhecida de Leoni e neste ano 2023 completa-se 30 anos de seu lançamento. Ela embalou a adolescência de muitos jovens românticos que tiveram o privilégio de experienciar essa fase da vida durante a década de 90, época na qual, em minha opinião, que lá estive adolescente, o caldeirão musical estava em uma fenomenal e sem igual ebulição criativa. Leoni, na referida canção, capta poeticamente o paradoxo encontro entre drama e encanto que uma jovem mulher pode proporcionar a um jovem que por ela se apaixona: olhos, olhares, truques, confusões, boca, cabelo, peitos, poses, apelos, mistérios, armadilhas. Essa ambivalência torna-se ainda mais dramática na medida em que, ao que parece, enquanto jovens apaixonados são só garotos , tentando apreender algo sobre o impressionante universo feminino que se apresenta a eles com as descobertas sexuais da puberdade, as meninas por quem eles se encantam já são tão mulheres . No texto “A feminil

Uma abordagem psicossomática do transtorno de pânico

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  Palpitações, formigamentos, sudorese, sensações de coração acelerado, falta de ar e morte iminente. São muitos os sintomas e é grande o desconforto experimentado pelos pelas pessoas que sofrem do transtorno de pânico. Todavia, apesar da elevada prevalência desse problema, inclusive em unidades de urgência, é frequente que pacientes com pânico sejam pouco compreendidos e tratados de modo inapropriado na clínica médica. Visando construir uma abordagem diferenciada sobre o pânico, fazendo dialogar conhecimentos da Medicina e da Psicanálise, convidamos um médico psiquiatra e um psicanalista para conversar sobre esse tema. Acesse o vídeo a seguir e confira: Apresentação/Introdução - 00:00:00 a 00:12:20 Entrevista Marcus Bressan Leite - 00:12:21 a 00:37:3 0  Entrevista Vitor Werner - 00:37:3 1 a 01:07:15 Diálogos - 01:07:16 a 01:47:40 ---o--- Artigo utilizado no estudo: Costa VA de SF, Queiroz EF de. Transtorno de pânico: uma manifestação clínica do desamparo. Psicol cienc prof [Interne

Sobre violência autoinfligida e a queda do pai na era moderna

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Juliete (nome fictício) é uma adolescente de 15 anos de idade que vinha fazendo cortes em sua própria pele. Os ferimentos assustavam seus pais, avós, professores e amigos, mas nem isso nem os psicofármacos que lhe prescreveram a impediam de continuar. Logo, os antebraços da jovem seguiam com inúmeras marcas e cicatrizes. Outro dia, o pai, indignado com a automutilação da filha, repreendeu-a severamente, disse-lhe que não podia mais fazer aquilo, pois “sempre teve tudo que precisou” e “nunca lhe faltou nada”. Será mesmo? Retomaremos a vinheta clínica de Juliete mais à frente. Primeiro, é importante destacar que casos como o dessa jovem têm sido frequentes nos consultórios de profissionais que lidam com questões relativas à saúde mental, sejam eles psicanalistas, médicos ou psicólogos. Portanto, podemos esperar que histórias como a dela, quando escutadas com atenção, nos permitam compreender mais da subjetividade do mundo contemporâneo. A propósito, sabemos que essa compreensão deve ser

Corpo e responsabilidade: efeitos da psicanálise sobre portadores de doenças degenerativas

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Se é verdade que as doenças degenerativas não têm cura, o inconsciente também não. Mas é fato notório na clínica que pessoas diferentes experimentam modos distintos de sofrer com a mesma doença, independente da progressão da enfermidade. Frente ao real, cada ser humano constrói sua resposta particular. Diante dessa constatação, os clínicos mais curiosos, sejam médicos, psicanalistas ou outros profissionais, não hesitarão em questionar: ao receber diagnóstico de uma doença grave, que tipo de coisa determina que alguém, em vez de se lamentar, encare tal situação como um bom motivo para se reinventar todos os dias? E acaso seria possível modificar a percepção de quem se paralisou em todos os sentidos pela enfermidade? Nesse encontro do grupo de estudos Psicossomática Florianópolis, cuja gravação está disponível no vídeo a seguir, buscamos respostas, para essas e outras perguntas, na psicanálise, na medicina e na vida! apresentações - 0:00:00 - 00:12:29 introdução ao tema - Bruno Tannus -

Um caso de endometriose para pensar o corpo na psicanálise

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Considerando a clínica psicanalítica em nossa atualidade, já atravessada pela clínica do real apresentada por Lacan no final de seu ensino, podemos fazer muitas articulações sobre a relação entre corpo e subjetividade pertinentes ao ofício do analista. Em verdade, com os sucessivos apelos ao corpo no mundo contemporâneo, particularmente aqueles que encontram ecos na medicina, o psicanalista de hoje, na escuta diária que seu ofício requer, lida com pessoas cuja subjetividade está de algum modo contaminada por tais apelos, não raro excessivos e causadores de sofrimento. É pertinente apontar que questões do corpo estão presentes na Psicanálise desde o nascimento desta centenária senhora. Melhor dizendo, foi por causa de enfermidades que afetavam o corpo e que não eram satisfatoriamente tratadas pela medicina, a saber, as neuroses histéricas, que a psicanálise surgiu. Seu surgimento se deu com as perspicazes observações clínicas de Sigmund Freud, durante seu trabalho devidamente registrado