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Mostrando postagens de 2016

Quando a autonomia do paciente impõe limites (saudáveis) ao médico

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Outro dia uma paciente idosa, de 84 anos, apresentou-se ao consultório de uma colega médica para se queixar de cansaço e tosse eventual, pouco produtiva. Ao exame físico, aquela senhora, fumante inveterada, mostrava-se descorada e emagrecida. Isto era suficiente para se cogitar o diagnóstico de câncer de pulmão e tal hipótese fortaleceu-se quando uma tomografia de tórax foi realizada, detectando nódulos pulmonares suspeitos. A partir dali, a investigação confirmatória exigiria exames mais invasivos, como uma broncoscopia. A senhora, no entanto, recusou-se a prosseguir, apesar de a médica ter-lhe sugerido sobre a importância de novos exames. E agora, o que fazer? Estamos diante de um dilema que ultrapassa as fronteiras do conhecimento objetivo da medicina, corroborando a fala de Cecil G. Helman quando ele diz que a perspectiva por vezes limitada de doença na medicina moderna, com sua ênfase em dados físicos quantificáveis, pode ignorar as várias dimensões dos sentidos – psicológico,

Intolerantes à lactose ou a algo mais?

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A tendência das pessoas em acreditar que a explicação para seus problemas de saúde está fora de si é enorme. Isto, embora seja um equívoco, trata-se de uma condição bastante corriqueira em nossos dias, e faz com que pacientes e médicos se envolvam em uma cascata sem precedentes de preocupações e exames desnecessários, além de tratamentos inapropriados, quando não enganosos. A intolerância à lactose é um ótimo exemplo de álibi para pessoas que buscam apontar um culpado externo para seus desconfortos. Vejamos o que se pode aprender com ela. Para início de conversa, a lactose não é uma proteína, como muitos pensam erroneamente. Trata-se de um carboidrato (açúcar, em linguagem leiga) encontrado no leite e produzido exclusivamente pelas glândulas mamárias dos mamíferos. Portanto, intolerância à lactose é bem diferente de alergia à proteína do leite de vaca (APLV), embora ambas as entidades clínicas possam representar a não aceitação de algo inconsciente. Voltaremos a falar disso mais

Problemas relacionados ao consumo do álcool

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O consumo de bebidas alcoólicas é um caso de saúde púbica, face aos números expressivos de morbidade e mortalidade relacionados ao álcool, direta ou indiretamente, além de sua notória relação com disfunções familiares e prejuízos sociais evidentes. Passando por reflexões etiológicas, conceituação e ferramentas diagnósticas, o objetivo desta webpalestra é identificar os principais problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas e apresentar medidas para enfrenta-los, especialmente no âmbito da atenção primária à saúde.

Sobre a morte e o morrer: lidando com pacientes terminais

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Este é um convite para a mesa redonda que vai rolar na próxima sexta, promovida pela Associação Catarinense de Medicina de Família e Comunidade, nas dependências do Centro de Ciências da Saúde da UFSC. A terminalidade é um tema não raro angustiante para pacientes, familiares e profissionais de saúde, apesar de sua inevitabilidade. A intenção desse encontro será a construção conjunta de saberes sobre a morte e o morrer, a partir das perspectivas diversas dos participantes. Gabriel Hahn Monteiro Lufchitz e eu esperamos ser facilitadores do processo. Compareça com suas ideias e contribua com o evento!

Ejaculação precoce, para quem?

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Poucos problemas de saúde causam tanto incômodo aos homens quanto aqueles que comprometem seu órgão sexual, símbolo fálico à luz da psicanálise. Entre homens jovens, antes da temida “impotência sexual”, uma queixa mais corriqueira é a ejaculação rápida, também conhecida como precoce. Mas, se existe mesmo tal precocidade, a que se deveria? O primeiro passo no consultório frente a um paciente que se queixa de ejaculação precoce é justamente compreender o que ele considera como precoce. Não raro, aquilo que os homens entendem como orgasmo masculino rápido somente seria veloz se comparado ao imaginário fantasioso, ou a relatos fantásticos inverídicos de outros homens, nos quais ocorreria um dilatado tempo para se chegar ao clímax das relações sexuais. Em um segundo momento, se ficar constatado que realmente a velocidade com a qual o homem libera o ejaculado comprometa significativamente o relacionamento com a parceira, há que se oferecer tratamento. Este deve ser embasado pela tera

Princípios básicos da Terapia Comunitária Integrativa

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A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) pode ser considerada uma boa opção não farmacológica, tanto preventiva quanto terapêutica, para os problemas de saúde mental. Fundamentada no pensamento sistêmico, na teoria da comunicação, na antropologia cultural, na pedagogia de Paulo Freire e na resiliência, a TCI configura-se como excelente alternativa à medicalização da existência e ao descentramento do sujeito, problemas observados na atual crise da psiquiatria. A webpalestra que pode ser acessada a seguir objetiva apresentar, de modo sucinto, os pilares teóricos e a técnica da TCI, na expectativa de que mais profissionais da atenção primária à saúde motivem-se pela formação específica que permite coloca-la em prática. Mais informações a respeito da TCI podem ser encontradas no site da Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (ABRATECOM):  abratecom.org.br

Ética médica, benzodiazepínicos e a alienação do sujeito

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Dilmara, uma senhora de 54 anos de idade, consumia 12 mg de bromazepam e 4 mg de clonazepam (Rivotril®) diariamente, há 3 anos. Recentemente ela esteve no consultório da doutora Marina, médica nova na cidade, somente para solicitar que a profissional de saúde renovasse as receitas daqueles fármacos, pertencentes à classe dos benzodiazepínicos. Marina, conhecendo diversos prejuízos que podem advir do uso crônico de tais medicamentos, questionou Dilmara por que ela consumia-os há tanto tempo. A paciente relatou que, por recomendação de um médico anterior, começou a tomar benzodiazepínicos porque estivera deprimida. Atualmente Dilmara não se sentia triste, mas falou à nova médica que precisava deles para “continuar tranquila o dia inteiro”. Quando Marina explicou-lhe os potenciais danos associados ao uso crônico da referida classe de drogas, Dilmara disse achar absurdo um profissional médico considerar não renovar uma receita de uso contínuo. Eis o dilema ético que se apresentou: dev