Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2019

O homem cujas pernas foram arrancadas

Imagem
“Arrancou minhas pernas.” Esta foi a metáfora utilizada por Duarte para reportar-me o que sentia no tocante à morte do filho, jovem policial que perdera a vida em serviço, num acidente enquanto pilotava uma motocicleta. Duarte valia-se com alguma frequência de metáforas, mas notei que não conseguia muito mais do que elas para expressar seus afetos. A propósito, em pouco tempo tratando seu caso percebi que ele, o homem cujas pernas foram arrancadas, tinha significativa dificuldade para falar sobre sentimentos e emoções. Era como se, além das pernas, certos pensamentos fossem “arrancados” de seu psiquismo, não deixando quase nenhum vestígio. Mesmo a metáfora das pernas arrancadas não apareceu na primeira ocasião em que Duarte veio consultar-me, num ambulatório da Aeronáutica. No encontro clínico inicial, o homem queixava-se de fraqueza e achava-se “desgastado”. Militar reformado, aos 65 anos ele parecia triste e de fato consumido pelo tempo, um idoso envelhecido. Ao contrário de outr