Metformina para emagrecer (só que não)

Foram-se as festas de fim de ano e, como de praxe, muitos começaram uma luta feroz para não serem derrotados pela balança. Alguns tentarão queimar poucos quilos a mais, sem tanta importância. Outros estão preocupados com o próprio peso há mais tempo e o momento pós-farras alimentares somente os faz lembrar mais veementemente de sua condição.

Não restam dúvidas sobre a obesidade ter se tornado, nas últimas décadas, um importante problema de saúde pública, dado o crescimento exponencial de suas prevalências ao redor do mundo. Sabendo que a obesidade é um fator de risco para vários problemas de saúde, considera-se seu tratamento uma importante medida preventiva. O excesso de peso, além de estar associado a diversos tipos de doenças, provoca estigmas que trazem em seu âmago consideráveis prejuízos sociais.


Talvez, muito mais que as doenças, o desconforto social seja o principal motor que leva os indivíduos obesos a buscarem soluções para seu problema. Entretanto, muitos deles fantasiam uma solução simplista através do uso de medicamentos isoladamente. É verdade que diversos medicamentos podem ser utilizados para ajudar a reduzir o peso, mas neste contexto eles sempre devem ser encarados como meros auxiliares no tratamento.


Várias substâncias foram e continuam sendo testadas para essa finalidade. Afinal, se houvesse mesmo um fármaco que sozinho resolvesse a obesidade, ele seria um estrondoso sucesso de vendas. Mas essa “menina dos olhos” da indústria farmacêutica ainda não existe (e arrisco a dizer que jamais existirá). Até o momento, o máximo que algumas medicações podem desempenhar são benefícios modestos e não duradouros sobre a perda ponderal.


A metformina, em função da disseminação de seu uso para indivíduos diabéticos do tipo 2, tornou-se a bola da vez para alguns pacientes que costumam sonhar com a possibilidade de consumirem medicamentos para perder peso. Ela pertence ao grupo das biguanidas e atua aumentando a sensibilidade da insulina nos tecidos periféricos, principalmente no fígado, diminuindo a produção hepática de glicose. Além de melhorar a ação da insulina, considera-se a metformina um fármaco com bom perfil de segurança e experiência clínica de longo prazo.


Sabe-se que a metformina realmente é capaz de produzir alguma perda de peso, embora tal efeito seja pequeno. Deste modo, sua utilidade como monoterapia no tratamento farmacológico de casos de obesidade é considerada limitada. Quando comparada ao placebo, ela demonstrou propiciar uma perda de peso de apenas 1 a 2 Kg nos indivíduos que a utilizaram em um estudo de seguimento de 10 anos. Considerando esses efeitos irrisórios, embora a metformina não possa ser qualificada como “droga para perder peso”, ela se torna uma boa opção terapêutica em pessoas com excesso de peso que apresentam outras condições clínicas que requeiram seu uso, por exemplo, diabetes e síndrome dos ovários policísticos.


Concluindo, cabe ressaltar que qualquer tratamento visando emagrecimento, algo particularmente importante para pessoas com sobrepeso ou obesidade, deve necessariamente conter dieta com balanço energético negativo e atividade física regular, preferencialmente com suportes de nutricionista e educador físico, respectivamente.


Também é importante o acompanhamento psicológico, este visando descobrir as causas inconscientes do excesso de peso e das compulsões alimentares, frequentemente associadas a ele. O corpo fala, e sua linguagem necessita ser decifrada para que a verdadeira cura possa tomar devido lugar.


Comentários

  1. As seguintes referências foram consultadas para a elaboração desse texto:

    - Neumann CR, Marcon ER, Molina CG. Obesidade. In: Gusso G, Lopes JMC (organizadores). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: Artmed; 2012. p. 1417-1427.

    - Yanovski SZ, Yanovski JA. Long-term Drug Treatment for Obesity: A Systematic and Clinical Review. JAMA. 2014; 311(1): 74-86.

    - Bray GA. Obesity in adults: Drug therapy. UpToDate. Disponível em URL: http://www.uptodate.com/contents/obesity-in-adults-drug-therapy (acesso em 11 set. 2015).

    - Chazan ACS, Winck K. Diabetes tipo 1 e 2. Obesidade. In: Gusso G, Lopes JMC (organizadores). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: Artmed; 2012. p. 1435-1443.

    ResponderExcluir
  2. A imagem utilizada foi obtida livremente em http://www.obesidadecontrolada.com.br/wp-content/uploads/2013/01/obesidade_interna_site.jpg (acesso em 04 jan. 2016).

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Os adolescentes e algumas psicoses do nosso tempo

Sobre violência autoinfligida e a queda do pai na era moderna

A masturbação coletiva e os estudantes de Medicina