Daredevil e O Mal-Estar na Cultura
Que relação pode haver entre o temerário vigilante e o colosso texto freudiano?
https://x.com/_DaredevilShots/status/1894472516170608704
[acesso em 14 abr 25]
Matthew Murdock, que tem o Daredevil como alter ego, é para mim um dos personagens mais interessantes nos quadrinhos da Marvel. Não tanto por suas características ficcionais, mas pelo dilema que o persegue: dominar o mau ou deixá-lo sair?
Católico confesso, Matt se diz temente a Deus e leva uma vida aparentemente de acordo com sua crença. Cidadão exemplar e honesto, trabalha como advogado defensor de gente inocente e de poucos recursos, geralmente atuando contra pessoas influentes e poderosas. No entanto, diante da face decadente, sombria, corrupta e criminosa da grande cidade em que vive, onde muitas vezes a justiça legalmente constituída tem pouca ou nenhuma chance de cumprir seu papel, ele substitui o terno de advogado por um traje de demônio, autorizando-se a usar de violência e a fazer justiça com as próprias mãos, enveredando-se por caminhos que seu lado civilizado certamente não o permitiria trilhar. Essa decisão costuma ser sofrida e angustiante para ele, mas há nela, ao mesmo tempo, uma espécie de gozo mórbido que lhe traz alguma satisfação.
No fim das contas, a difícil escolha de Matt entre Deus e o Diabo é a escolha que todos temos que encarar diariamente, nas mais variadas circunstâncias: amor ou pecado? Pulsão de vida ou de morte? Retidão ou transgressão? São dilemas demasiadamente humanos, extensamente abordados por Freud no épico “O Mal-Estar na Cultura”, no qual ele afirma que a inclinação à agressão é uma predisposição pulsional originária e autônoma do ser humano. Para frear tais inclinações agressivas e possibilitar a convivência entre os seres humanos, minimizando, não impedindo, as chances de nossa autodestruição, o único caminho viável seria a constituição da civilização sob a letra da Lei.
Fonte da imagem do post:
Católico confesso, Matt se diz temente a Deus e leva uma vida aparentemente de acordo com sua crença. Cidadão exemplar e honesto, trabalha como advogado defensor de gente inocente e de poucos recursos, geralmente atuando contra pessoas influentes e poderosas. No entanto, diante da face decadente, sombria, corrupta e criminosa da grande cidade em que vive, onde muitas vezes a justiça legalmente constituída tem pouca ou nenhuma chance de cumprir seu papel, ele substitui o terno de advogado por um traje de demônio, autorizando-se a usar de violência e a fazer justiça com as próprias mãos, enveredando-se por caminhos que seu lado civilizado certamente não o permitiria trilhar. Essa decisão costuma ser sofrida e angustiante para ele, mas há nela, ao mesmo tempo, uma espécie de gozo mórbido que lhe traz alguma satisfação.
No fim das contas, a difícil escolha de Matt entre Deus e o Diabo é a escolha que todos temos que encarar diariamente, nas mais variadas circunstâncias: amor ou pecado? Pulsão de vida ou de morte? Retidão ou transgressão? São dilemas demasiadamente humanos, extensamente abordados por Freud no épico “O Mal-Estar na Cultura”, no qual ele afirma que a inclinação à agressão é uma predisposição pulsional originária e autônoma do ser humano. Para frear tais inclinações agressivas e possibilitar a convivência entre os seres humanos, minimizando, não impedindo, as chances de nossa autodestruição, o único caminho viável seria a constituição da civilização sob a letra da Lei.
Bruno Guimarães Tannus
psicanalista e médico especialista em Medicina de Família
CRM-PR 25429 / RQE 35797
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[acesso em 14 abr 25]
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