Transtorno obsessivo-compulsivo: o que é e como tratar

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um diagnóstico psiquiátrico, mas certamente uma condição bastante prevalente tanto nos consultórios de psicanalistas quanto de médicos. Afinal, como lidar com isso? Quais possibilidades de abordagem são mais apropriadas para trata-lo?

Inicialmente, vale delimitar o TOC como um problema relacionado à saúde mental. Nesta área, praticamente todos os diagnósticos se fazem sem exames complementares (por exemplo, testes de laboratório ou exames de imagem), porque dependem, essencialmente, do discurso do(a) paciente. Chega-se ao diagnóstico, pois, através da clínica, basicamente com a entrevista que acontece entre o médico e a pessoa que afirma sofrer de obsessões e compulsões.

A propósito, enquanto as obsessões são pensamentos ou imagens que insistem em vir à mente, mesmo que a contragosto da pessoa, causando-lhe angústia, as compulsões são comportamentos ou atos repetitivos que ela se sente obrigada a realizar justamente para reduzir a ansiedade gerada pelas obsessões.

Para a psicanálise, tais sintomas são repetições neuróticas decorrentes de uma combinação de fatores psicológicos e relacionais, portanto é pela via da investigação e da elaboração psíquica desses fatores que se dá o tratamento psicanalítico do TOC. A psiquiatria, por outro lado, usualmente não se interessa por esse tipo de abordagem, contentando-se com a mera descrição dos sintomas, seguida pela prescrição de medicações e psicoterapias que os possa "controlar".

Atravessados por essa lógica psiquiátrica, dominante nas últimas décadas, um grupo majoritário de psiquiatras e outros médicos colocou-se numa busca obstinada, financiada pela indústria farmacêutica, para encontrar supostas alterações biológicas que explicassem os transtornos da saúde mental, incluindo o TOC. Todavia, até o presente momento, essa busca tem sido mal sucedida, pois tais alterações nunca foram encontradas. Na seara da saúde mental, estamos de fato no campo do discurso, da linguagem: os transtornos não possuem causas orgânicas.

A obstinação mencionada infelizmente não foi sem consequências, pois fez com que a maioria dos psiquiatras abandonasse a psicanálise, apesar de enfermidades como o TOC seguirem sem causa biológica definida. Não é de se espantar que a impossibilidade de curar esse tipo de problema utilizando psicofármacos (medicações prescritas na psiquiatria) seja um fato constatado, ainda que, em situações bem selecionadas e por curto período, tais drogas talvez ajudem um pouco.

Assim, a psicanálise, desde Freud, na medida em que propõe mudanças gradativas na posição subjetiva, sem almejar eliminar os sintomas, mas sim transformá-los em outra coisa, menos engessada, continua sendo uma opção de cura para aqueles que sofrem de sintomas obsessivos e compulsivos, entre outros transtornos da saúde mental.

Bruno Guimarães Tannus
psicanalista e médico especialista em Medicina de Família
CRM-PR 25429 / RQE 35797

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Imagem do post disponível em:
https://neuroclastic.com/obsessive-compulsive-disorder/
[acesso em 07 nov 25]

Comentários

  1. Exatamente, Dr. Bruno, essa espécie de "reducionismo científico" pode acabar prejudicando, ao invés de ajudar, à medida em que a busca por remédios miraculosos podem desestimular a pessoa a buscar, por meio da psicanálise, por exemplo, as transformações necessárias em busca do bem-estar. Evidentemente remédios são conquistas espetaculares da ciência, mas não podem, com isso, tornarem-se um fim em si mesmos. A luta continua...

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  2. Concordo com você, prezado Mauricio. E seguimos na luta. Grande abraço.

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